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brasileiros da época.
Fagundes Varela
Poeta da
fase romântica, Luís Nicolau Fagundes Varela nasceu em Rio Claro, RJ, em 1841 e
morreu em Niterói em 1875.
Uma das
vitalidades do Romantismo, a atravessar, inclusive, algumas das vanguardas e
outros importantes movimentos mundiais do século XX, foi a da própria vida do
artista, questionando os valores decadentes da vida burguesa, se transformar em
obra de arte. Nesse sentido, Fagundes Varela foi um romântico exemplar. Nele,
tudo é desregramento: mulheres, brigas, bebedeiras, contas devidas na praça,
vadiagem, hostilidades explícitas a transeuntes nas ruas, salvamento heróico de
pessoas em um naufrágio etc. Acrescenta-se, a isso, a morte de dois filhos e de
uma de suas esposas, para compor um rápido panorama da tragicidade de sua
existência, além da sua própria passagem ter sido provocada pelo álcool.
Detestando
a hipocrisia da vida urbana e expurgando as dores que lhe eram impingidas,
Varela fazia intermináveis andanças pelo ermo da natureza selvagem, onde
conseguia se reconciliar com a alegria originária do cosmos. Tendo escrito o
‘Evangelho na Selva’, onde buscou sua imortalidade literária, ele é tido como o
último dos grandes românticos, com uma poesia à altura de sua vida.
Obras:
Noturnas (1861); O Estandarte Auriverde (1863); Vozes
da América (1864); Cantos e Fantasias (1865); Cantos Meridionais (1869); Cantos
do Ermo e da Cidade (1869); Anchieta ou o Evangelho na Selva (1875); Cantos
Religiosos (1878); Diário de Lázaro (1880); Poesias Completas (1956).
Em 1878 seu amigo Otaviano Hudson organizou Cantos
Religiosos, cuja publicação destinava-se a auxiliar sua viúva e filhas.
A Flor do Maracujá
Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!
Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Pelas florestas imensas
Que falam de Jeová!
Pela lança ensangüentada
Da flor do maracujá
Por tudo que o céu revela!
Por tudo que a terra dá,
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está!...
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!
Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em - a -
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!
Casimiro de Abreu
O poeta
Casimiro José Marques de Abreu nasceu no Rio de Janeiro em 1839 e morreu na
fazenda do Indaiaçu, onde hoje é o município de Casimiro de Abreu, RJ, em 1860.
Uma das
características mais marcantes da arte a partir do século XX é sua abertura
àquilo que, anteriormente, não era reconhecidamente artístico. Nessa
mestiçagem, tornando-se alguém que pode privilegiar qualquer assunto como
motivação de seu fazer, o poeta abre mão dos temas românticos e assume para si
a perda de sua aura. Apesar disso, não foi sempre assim. O mundo já se dividira
em pessoas de ação e sonhadores extravagantes — os poetas —, que possuíam um
certo repertório de temas a ser cantado.
Tendo
morrido aos 21 anos, Casimiro de Abreu, aliando à espontaneidade lingüística, à
despretensão formal e à valorização do sentimento, tornou-se um dos poetas mais
lidos do Brasil, talvez justamente por ser o ponto de convergência de inúmeros
topos reconhecidamente poéticos (a saudade, o amor, a tristeza, os desejos,
etc.), filtrados por uma graciosidade toda própria. É, no mínimo, curioso que
aos 20 anos de idade alguém já se sinta melancólico pela perda da "minha
infância querida/ que os anos não trazem mais...". Mas como não se curvar
diante desse embalo vivenciado, em algum momento da vida, por quase todas as
pessoas?
Obras
- Poesias
Primaveras (1859)
- Teatro
Camões e o Jau (1856)
- Prosa Poética
A virgem loura Páginas do coração (1857)
- Romance
Carolina (1856)
Camila - inacabado - (1856)
- Obras
Completas (1940); Poesias Completas (1948); Obras de C. A. (1999).
Meus oito anos
Oh! que saudades
que tenho
Da aurora da
minha vida,
Da minha infância
querida
Que os anos não
trazem mais!
Que amor, que
sonhos, que flores,
Naquelas tardes
fagueiras
À sombra das
bananeiras,
Debaixo dos
laranjais!
Como são belos os
dias
Do despontar da
existência!
- Respira a alma
inocência
Como perfumes a
flor;
O mar - é lago
sereno,
O céu - um manto
azulado,
O mundo - um
sonho dourado,
A vida - um hino
d'amor!
Que aurora, que
sol, que vida,
Que noites de
melodia
Naquela doce
alegria,
Naquele ingênuo
folgar!
O céu bordado
d'estrelas,
A terra de aromas
cheia
As ondas beijando
a areia
E a lua beijando
o mar!
Oh! dias da minha
infância!
Oh! meu céu de
primavera!
Que doce a vida
não era
Nessa risonha
manhã!
Em vez das mágoas
de agora,
Eu tinha nessas
delícias
De minha mãe as
carícias
E beijos de minhã
irmã!
Livre filho das
montanhas,
Eu ia bem
satisfeito,
Da camisa aberta
o peito,
- Pés descalços,
braços nus -
Correndo pelas
campinas
A roda das
cachoeiras,
Atrás das asas
ligeiras
Das borboletas
azuis!
Naqueles tempos
ditosos
Ia colher as
pitangas,
Trepava a tirar
as mangas,
Brincava à beira
do mar;
Rezava às
Ave-Marias,
Achava o céu
sempre lindo.
Adormecia
sorrindo
E despertava a
cantar!
Oh! que saudades
que tenho
Da aurora da
minha vida,
Da minha infância
querida
Que os anos não
trazem mais!
- Que amor, que
sonhos, que flores,
Naquelas tardes
fagueiras
A sombra das
bananeiras
Debaixo dos
laranjais!
Junqueira Freire
Junqueira Freire (Luís José J. F.), monge beneditino,
sacerdote e poeta, nasceu em Salvador, BA, em 31 de dezembro de 1832, e faleceu
na mesma cidade, em 24 de junho de 1855. É o patrono da Cadeira n. 25, por
escolha do fundador Franklin Dória.
Junqueira Freire
Era filho de José Vicente de Sá Freire e Felicidade
Augusta Junqueira. Feitos os estudos primários e os de latim, de maneira
irregular por motivo de saúde, matriculou-se em 1849 no Liceu Provincial, onde
foi excelente aluno, grande ledor e já poeta. Por motivos familiares, ingressou
na Ordem dos Beneditinos em 1851, aos 19 anos, sem vocação, professando no ano
seguinte com o nome de Frei Luís de Santa Escolástica Junqueira Freire.
Na clausura do Mosteiro de São Bento de Salvador viveu
amargurado, revoltado e arrependido por certo da decisão irrevogável que
tomara. Mas ali pôde fazer suas leituras prediletas e escrever poesias, além de
exercer atividade como professor. Em 1853 pediu a secularização, que lhe
permitiria libertar-se da disciplina monástica, embora permanecendo sacerdote,
por força dos votos perpétuos. Obtida a secularização no ano seguinte,
recolheu-se à casa, onde redigiu a breve Autobiografia, em que manifesta um
senso agudo de auto-análise. Ao mesmo tempo, cuidou da impressão de uma
coletânea de versos, a que deu o nome de Inspirações do claustro, impressa na
Bahia pouco antes de sua morte, aos 23 anos, motivada por moléstia cardíaca de
que sofria desde a infância.
A sua obra poética enquadra-se na terceira fase do
Romantismo, dita de ultra-romantismo. Na sua geração foi o mais ligado aos
padrões do Neoclassicismo português, ele próprio sendo autor de um compêndio
conservador, Elementos de retórica nacional, que explica a sua concepção de
poesia como cadência medida e até certo ponto prosaica. A sua mensagem, como a
dos românticos em geral, era complexa demais para caber na regularidade do
sistema clássico. O drama que tencionava mostrar era o erro de vocação que o
levou ao claustro, seguido da crise moral e do conflito interior que o levaram
a abandoná-lo. Daí provieram os temas mais freqüentes da sua poesia, misturados
a preces e blasfêmias:
o horror ao celibato; o desejo reprimido que o
perturbava e aguçava o sentimento de pecado; a revolta contra a regra, contra o
mundo e contra si próprio; o remorso e, como conseqüência natural, a obsessão
de morte. O poeta clama na sua cela e traz desordenadamente este tumulto ao
leitor.
Sua poesia, ora do cunho religioso, ora social, tem
lugar relevante no Romantismo brasileiro. Possuía também um sentimento
brasileiro, além de uma tendência antimonárquica, liberal e social.
Obra:
Inspirações do claustro (1855); Elementos de retórica
nacional (1869); Obras, edição crítica por Roberto Alvim, 3 vols. (1944);
Junqueira Freire, org. por Antonio Carlos Vilaça (Coleção Nossos Clássicos, n.
66); Desespero na solidão, org. por Antonio Carlos Vilaça (1976); Obra poética
de Junqueira Freire (1970).
Teus Olhos
Que lindos olhos
Que estão em ti!
Tão lindos olhos
Eu nunca vi...
Pode haver belos
Mas não tais quais;
Não há no mundo
Quem tenha iguais.
São dois luzeiros,
São dois faróis:
Dois claros astros,
Dois vivos sóis.
Olhos que roubam
A luz de Deus:
Só estes olhos
Podem ser teus.
Olhos que falam
Ao coração:
Olhos que sabem
Dizer paixão.
Têm tal encanto
Os olhos teus!
— Quem pode mais?
Eles ou Deus?
Produção de poemas nos moldes dos Ultrarromânticos.
Se minha vida fosse sonho
E meus sonhos realidade
Poderia ser então
Que eu o tivesse de verdade
Tua face, os teus olhos
Me iluminam o caminho.
E me tiram da tristeza,
Escuridão e desalinho.
E tuas doces palavras
Que da dúvida sempre me tiram,
Aconselhando, ensinando
E que nas dificuldades me motivam.
Tu és meu doce amado,
O meu mais lindo delírio
Minha felicidade clandestina
E o meu doloroso suspiro.
Postado por Gabriela Maria e leticia Lopes - 9ºA